Sic transit gloria mundi

"Assim passa a glória do mundo”

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Moral e ética segundo Lula

Por: Bruno Pontes

Artigo em O EstadoLula já decretou que ninguém neste país pode lhe dar lições de ética. Ninguém. Quando surgiram as primeiras denúncias de corrupção nos Correios, que resultariam na descoberta do mensalão, em meados de 2005, Lula bateu no peito: "Ninguém tem mais autoridade moral e ética do que eu para fazer isso, para transformar a luta contra a corrupção não em bandeira, mas em prática cotidiana". Sendo assim, vale a pena analisar outras declarações do nosso presidente à luz da moral e da ética.Em dezembro de 2001, Lula participou da 10ª reunião do Foro de São Paulo, em Havana, com outros bacanas da esquerda latino-americana, incluindo entidades filantrópicas como o Tupac Amaru peruano e as Farc colombianas. Lula estava bastante sentimental. Ele se desmanchou na presença de Fidel Castro: "Tenho absoluta noção das críticas que Cuba e o governo cubano recebem todos os dias de grande parte da imprensa no Brasil e no mundo. Mas vou lhes dizer: obrigado, Fidel Castro. Obrigado por vocês existirem. Vocês dão demonstração todos os dias de que é melhor fazer menos do que poderíamos fazer, de cabeça erguida, do que ceder e perder a auto-estima – é melhor fazer pouco, mas com dignidade. A velhice é implacável: debilita o nosso corpo e enruga a nossa pele – mas a traição aos ideais é pior, porque enruga a própria alma. Embora o seu rosto esteja marcado por rugas, Fidel, sua alma continua limpa porque você não traiu os interesses do seu povo".Não se sabe a opinião dos milhares de cubanos fuzilados desde 1959 para que Fidel continuasse com a alma limpa. Não se sabe a opinião de Lula a respeito desses desgraçados que traíram os interesses do regime comunista.Lula também tem palavras pertinentes sobre o Oriente Médio. Foi dele a melhor síntese dos conflitos em torno da eleição presidencial iraniana, realizada na semana passada e provavelmente roubada por Mahmoud Ahmadinejad, o amigo da diplomacia petista: "É uma votação muito grande para a gente imaginar que possa ter havido fraude. Eu não conheço ninguém, a não ser a oposição, que tenha discordado da eleição do Irã. Não tem número, não tem prova. Por enquanto, é apenas, sabe, uma coisa entre flamenguistas e vascaínos".Nosso presidente tem critérios curiosos. Primeiro ele diz que não houve fraude porque Ahmadinejad teve uma votação muito grande, quando uma votação muito grande (inclusive na cidade do adversário mais forte) é justamente um indício de fraude. Depois alega desconhecer alguém que tenha suspeitado da eleição, como se o bate-papo do seu círculo de amizades resolvesse a questão. Mesmo assim, essas imbecilidades são inofensivas diante do absurdo de sua comparação futebolística. O que está acontecendo no Irã é um pouquinho mais complexo do que uma partida de futebol: trata-se de um povo dividido entre a tirania e a democracia, entre o convívio pacífico com os vizinhos e o patrocínio a grupos terroristas e a ameaça nuclear sobre Israel. Alguns manifestantes foram mortos. Aparentemente o líder da oposição foi preso. Estamos recebendo, via Twitter, os relatos de centenas de iranianos indignados com a repressão. Para Lula, são apenas, sabe, torcedores chateados com os números do campeonato.

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